Cultura do Estupro

sexta-feira, maio 27, 2016 Bruna Resende 0 Comments

O blog ficou encostado por muito tempo pelo mesmo motivo que todos os blogs ficam largados: a vida! As demandas surgem, as coisas acontecem e é preciso se concentrar nelas. Mas, este é um lugar de expressão pessoal e reflexões, por isso interrompo meu silêncio para comentar a notícia do estupro coletivo de uma garota de 16 anos.

O tema tem gerado grande comoção nas redes sociais (claro). Aparentemente, lá é o lugar de comoção, embora eu não tenha conseguido perceber mudanças sociais significativas a partir das bravatas de Facebook. De toda forma, observei que as pessoas que decidiram compartilhar textos contra o estupro ou colocar arte na foto de perfil " Eu luto contra a cultura do estupro" são 100% mulheres. Não vi nenhum homem, nem dos modernos, intelectuais, auto denominados feministas, gays, nenhum deles, repudiando o ato bárbaro do estupro coletivo e ainda o compartilhamento das imagens deste. (Editado: Depois de três dias, apareceram uns gatos pingados).

A partir disso, percebo que o buraco é mais embaixo. Para toda a sociedade. Pergunto-me quantas de nós, mulheres, de fato já sofreu violência. Imagino que o número seja enorme, mas não falamos disto por vergonha, medo de carregar uma marca, desconforto, porque lembrar dessas coisas nos enjoa o estômago, por dor, sofrimento e trauma. Algumas de nós nem consegue perceber que aquela "relada" desrespeitosa em espaços públicos, por exemplo, é assédio, é violência física e psicológica. Muitas de nós ainda acham muito tranquilo dizer "ah! aquele cara é tarado", sem entender que esse "tarado" não é só alguém que pensa em sexo o dia todo ou é fã de filmes pornô, esse tarado é o possível agressor da sua filha, se assim deixarmos a situação permanecer.

E aqui estou eu em bravatas também. Em discurso retórico, certo? Faço isso, no entanto, porque acredito que todas as mulheres precisam desenvolver consciência sobre a identidade desses atos de agressão, porque quando isso for claro para nós e tomarmos medidas de repressão contra tais atos, talvez os atores comecem a se sentir reprimidos, entendam que há consequência e que mulher não é pandeiro de escola de samba, não! Como seres sociais integrados em uma democracia, a única forma de fazer é denunciando, denunciando, denunciando! Não podemos nos calar, pois o silêncio faz a manutenção dos atos de violência.

Por favor, se algo desse tipo aconteceu com você, comece conversando com alguém que você confia e, quando estiver pronta, vá a polícia. Eu sei que lá você também pode encontrar um ambiente machista e de coação, mas seja corajosa, vá! Isso é lutar contra a cultura do estupro, botar arte na foto não põe na cadeia estuprador nenhum. É difícil sim se reerguer, afastar a memória, deixar de sentir na pele o peso da mão do outro, mesmo quando só ficaram cicatrizes, mas seja forte! É na força de pessoas como você e eu que a repulsiva cultura do estupro pode ter seu declínio.


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