A grama do vizinho é sempre mais verde na blogosfera
Escrevo blogs há 13 anos. Na minha época, blog era um diário
virtual e a gente contava da vida, discutia encanações juvenis, falava que o
menino bonito da escola tinha dado “oi” no corredor. Éramos uma comunidade
confessional, aberta às experiências alheias, sem críticas, mas sem maldade. Os golpes cibernéticos eram raros e por isso ninguém ligava muito em se
preservar. Claro que usávamos “nicknames” e costumávamos abreviar os nomes,
transformá-los em siglas.
Era uma época boa. A gente aprendia com histórias alheias
e não existia blog de moda, tecnologia e não sei mais o quê. Existiam sites e portais desses assuntos, mas blog era coisa de adolescente. Talvez, por isso mesmo, ninguém se
preocupava em montar histórias irreais de vida boa. A gente só vivia. Ninguém se preocupava
se o prato era lindo, apenas se era gostoso. A gente não queria ser magra ou
gorda para aparecer bem na foto do Instagram. Tínhamos sim a aquela preocupação de
ser a mais bonita da sala, no colégio. Só isso.
Depois, a internet foi mudando, sofisticando suas
ferramentas de compartilhamento. Foto digital ficou fácil, edição profissional
também. Hoje, conta-se nos dedos quem escreve em blog porque gosta de escrever, até porque hoje o conteúdo é feito massivamente por fotos de tudo quanto há de bom na sua vida, não
precisa falar muita coisa. Os blogs viraram uma vitrine de vidas perfeitas, felizes,
completas. É um espaço de gente bem amada, que alcança seus objetivos, que tem
dinheiro sobrando para tudo.
Por isso que quando você vai navegando de página em página
fica com a sensação que a grama do vizinho é mais verde. Parece que todo mundo
tem a vida fácil, só a gente que não. Só a gente dá fora, estoura o cartão de
crédito, tem que economizar para conseguir o que quer, trabalhar em escritório ou de pé, atendendo no balcão da loja. Aí vem a pergunta, como é a dinâmica da via boa que a gente vê nos blogs, no Instagram e nos feeds que seguimos? Acho que são quatro tipos.
Gente de sorte: aquelas bem nascidas, bem casadas ou
ganhadoras de loteria. Essas realmente já vieram a blogosfera com 50% mais
chances de postar fotos lindas, comer coisas ótimas, fazer viagens incríveis,
casar-se num lugar maravilhoso, vestir todas as tendências e sentar na primeira
fila da Fashion Week. Se são mais felizes, não dá para saber, porque a vida tem
seus altos e baixos para todo mundo, né? Essas são as moças da tesourinha do
Mickey (quem lembra?), do “eu tenho e você não tem”. Nunca entendi porque tanta
audiência, mas...
Gente talentosa: aquelas pessoas que tem uma coisa a mais.
Cantam bem, são carismáticas, escrevem textos que vão direto no coração,
ensinam utilidades, dão dicas boas, são artistas. Esse tipo de pessoa é aquela
que a gente agradece a Deus por ter blog, canal no Youtube, porque dão a maior força. Sãopessoas que produzem aquelas fotos que vão além de lugares legais e comida chic, mas são fotos que
você quer emoldurar para lembrar de ser feliz cada vez que olhar.
Gente esforçada: Não é bem nascido e, cá entre nós, não tem
nenhum talento especial dentro da rede, mas curte a ideia do blog e corre atrás. Busca coisas
interessantes para compartilhar, trabalha duro, aprende até a editar HTML e
usar o photoshop sozinho só para deixar o espaço legal. Gosta de interagir com
os leitores e, um dia, acaba tendo seu lugarzinho ao sol graças a dedicação e seriedade.
Finalmente, tem gente que a grama não é tão verde assim. Gente
que acha que realmente existe uma carreira chamada “blogueira” ou “it girl”. Aqueles
blogs estranhos que chegam até a ser engraçados de tanta forçação de barra. Esses,
a gente acaba largando de lado rápido!
O importante nessa brincadeira de escrever / ler blog é a
gente não se comparar, não achar que a grama do vizinho é mais verde, de fato. É
uma besteira danada se jogar para baixo por causa do mundo de faz de conta da
Internet. Acho que o conteúdo que consumimos, independente da fonte, deve ser
inspirador, alto astral, algo que te motive e te faça melhor. Além do mais,
moda e auto-estima são importantes, mas conteúdo é ainda mais! Sem contar que se faltar talento e sorte, o esforço está aí para todo mundo.
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